Santa Maria Garra é cria chão para uma ancestralidade aleijada. A santa inventada que vira onça convida a olhar para o estranho e brincar com tudo o que a gente conhece por normalidade. Ela é memória viva, magia que transcende dos corpos desfigurados e aleijados. Reza pelas almas e corpos que não tiveram a chance de existir em plena liberdade. Ela reconfigura o que assusta e transfigura formas através das brincadeiras, feitiçarias e do chão que faz brotar.
 

Foto: Davi Mello / Pareia


 Lua Cavalcante é pertencente ao povo Kixelô Kariri, É artista, diretora de arte, sambadeira de roda e aleijada. É tecnóloga em Fotografia, pedagoga e aprendiz griô. É coordenadora pedagógica na Casa de Cultura e Ecossistema de Arte – A Pilastra, educadora no SESI LAB e conselheira curatorial do Solar dos Abacaxis. Se coloca como corpo-artístico-político-pedagógico, propondo reflexões sobre quais lugares encantados esse corpo habita, entendendo as manifestações tradicionais como principal referência para as suas práticas educativas.

“Quando eu me sinto mais mulher é quando eu estou na roda. Na roda da Casa Moringa ou na roda de capoeira ou na roda de samba, principalmente. Ou na roda de jongo. Quando eu estou dentro de uma roda, me sinto mulher. E é nesses lugares que eu me vejo mulher, principalmente no samba de roda. E aí me vejo como pessoa brincante. Pessoa que tem marcações de gênero que se aproximam do gênero da mulher. Ser brincante pra mim é o que me dá vida hoje. É o que me dá sentido de existência hoje. Eu vivo porque brinco!”