Dolores de Amor é a dona da zorra toda. Do posto ao cabaré, essa senhora cura tudo que ela quiser. Cornite aguda, cotovelo machucado, peito aberto e quarto arriado; pra tudo isso, Dolores tem solução. É especialista em infernizar vida de cabra safado e reerguer mulher traída, sofrida e rejeitada. Dor de amor com ela não se cria, porque a raiz da sua medicina consiste em fazer graça com a desgraça. Percorre os quatro cantos do mundo, botando fogo na canjica. Vende, compra, troca e dá. Faz comércio com tudo que você imaginar.
 

Foto: Davi Mello / Pareia

 
Yvone Robine Lira é educadora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, desde 2013. Nasceu em Sete Lagoas, interior de Minas Gerais, e cresceu escutando os causos contados por sua família mineira. Apaixonada pelo universo das palavras, graduou-se em Letras – Português/Literatura. No campo das Artes, participou do projeto de teatro-dança Brincatividade e integrou grupo de professoras contadoras de histórias Dya Kassembe. Atualmente, além do trabalho com educação, dedica-se ao aprendizado da brincadeira que bebe nas fontes de tradições orais e de culturas populares.

“A mulher brincante é aquela que se abre pras possibilidades de encantamento da vida, o que implica reconhecer as belezas possíveis e também aquelas que têm se perdido… é também saber combater o desencanto. É saber dar nó em pingo d’água e botar fogo na canjica. É aprender a ciência do riso, com toda a sua complexidade. Rir na cara do perigo, por exemplo, requer muito preparo e seriedade, porque tem o antes, o durante e o depois. Ser mulher brincante é saber ser sinuosa, é saber se levantar caindo e cair se levantando. E é assim que eu tenho aprendido que, pra sorrir, a gente precisa ficar bem séria às vezes. E que uma boa gargalhada apavora muita gente que precisa tomar uns sustos por aí!”