Depois de visitar e aprender com as mestras da brincadeira no DF e contar um pouco das suas histórias em vídeos inéditos, a Caravana das Alembranças mergulhou em processo criativo para a criação do espetáculo “ A fabulosa história da onça alembrada”, um apanhado poético e brincante que valoriza a presença da mulher na cena teatral popular do DF.

Nossas mestras, Tetê Alcândida, Martinha do Coco e Tamatatiua Freire, acompanharam todo o processo criativo do espetáculo, trazendo o olhar da experiência e a maturidade criativa para o nossa brincadeira inventada, mas enraizada nas histórias de vida e nos encantes da nossa cultura. Nosso espetáculo também foi batizado a abençoado numa roda de mulheres e suas figuras, criadas em oficina da coletiva Casa Moringa. Foram 14 encantadas, compartilhando brincadeiras e magias para receber a Onça Yaya, a representação desse corpo coletivo feminino na ancestral.

Batizado da Onça Yaya

 

“A fabulosa história da onça alembrada” é uma brincadeira poética feita por mulheres, para praças, quintais e escolas, com música ao vivo, improvisação e interação com o público. Uma louvação ao corpo-coletivo ancestral das mulheres brasileiras. Criação da coletiva Casa Moringa, representando a nova geração de brincantes do teatro popular de Brasília.

Maria das Alembranças e sua companheira de travessia Malunga abrem uma roda de encantaria para alembrar uma história ancestral que andava esquecida no meio da mata. Convidam o medo e a coragem, abrindo caminho para as águas da memória, um olho d’água que revela a guardiã da floresta: Onça Yaya. Um feitio popular de fé e esperança: “o que é necessário, necessariamente retorna”.

Dona Maria das Alembranças. Foto: Lucas Vianna

 

Antes de seguir para o Nordeste, em novembro de 2021, a Caravana da Alembranças realizou as primeiras apresentações presenciais em escolas públicas do DF, respeitando os protocolos de prevenção ao COVID 19, atendendo a um publico reduzido de estudantes com uso de mascaras e distanciamento. Foram momentos muito importantes para todas nós revisitar os territórios de nossas mestras mais velhas, tecendo pontes entre a nossa arte com a educação pública, aprendendo com educadores e estudantes, que mesmo num momento tão desafiador, que é a pandemia, seguem resistindo e reinventando o cotidiano das salas de aula.

Começamos nossa caminhada no Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns, no Itapoã, no dia 12 de novembro. A escola integra a comunidade de atuação da Mestra Martinha do Coco. Foi uma apresentação intimista, para uma turma de 9º ano do ensino fundamental. Depois, no dia 16, visitamos o Centro de Ensino Especial 01 de Samambaia, numa experiência fantástica, reafirmando a importância da educação e da arte voltada para as crianças Portadoras de Necessidades Especiais. Brincamos em espaço aberto, inaugurando o teatro de arena da escola.

Malunga na roda. Foto: Lucas Vianna

 

Finalizamos nossa turnê no Distrito Federal na comunidade do Sol Nascente, na Escola Classe do Setor P Norte, em Ceilândia, junto à madrinha da nossa Brincadeira, Tetê Alcândida. Por lá, celebramos com muita alegria com as crianças da educação infantil.

Ao abrir a roda dentro das escolas, sentimos na pele como a integração do conhecimento de tradição oral com o currículo formal das escolas é potente e necessário, reafirmando a parceria entre cultura e educação com os aspectos educativos, políticos e sociais presentes nas nossas manifestações tradicionais. Aprendizados que trazemos da Pedagogia Griô e das ações de afirmação e valorização da presença de mestras da cultura popular e da tradição oral nas escolas, como instrumento para o fortalecimento da identidade cultural e ancestralidade dos estudantes.

Logo mais, a caravana segue rumo a Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Acompanhe nosso diário de bordo no instagram: @das_alembrancas.

 

Foto: Lucas Vianna