Na última quinta-feira, 16 de Agosto, fomos à casa do seu Zé do Pife, um griô caminhante muito conhecido na cidade.
Chegamos lá sentamos em sua aconchegante sala, conversamos um pouquinho com sua esposa, Dona Antônia, que sabe de muitos versos e cantigas de rodas… depois seu Zé apanhou cana de açúcar e cortou pra gente chupar!! hum que beleza.
Preparamos a roda de prosa ali em meio a bagaços e cascas de cana e ele muito artista, já acostumado a dar entrevistas ficou muito tranquilo e já começou se apresentando cantando versos… e para dar continuidade vou aqui contar sua história entre versos e rimas começo assim:
Agora eu vou contar
a história do menino
que nasceu Francisco e virou Zé…
Pra quem não sabe onde é
que isso se sucedeu
vou logo dizendo:
lá na região Nordeste
no estado de Pernambuco
na cidade de São José do Egito
foi onde ele nasceu.
Ali de pequenininho
ele ouviu as bandas de pife tocar
nas procissões e nas festas da cidade.
Por detrás desta música
ele ouviu o seu futuro cantar.
Ainda com os dedinhos pequenininhos
fez o seu primeiro pife de talo de girimu*
Pelo seu esforço e vontade
ele ganhou um pife
da banda Riacho de Cima
e tocou, tocou, tocou…
Até que o avô Pedro Cajá
resolveu incentivar
e uma banda de pife montar
comprou os instrumentos de percussão
e pra soprar os 2 pifes
colocou Francisco e Zequinha, os dois irmãos.
A banda logo foi convidada a fazer apresentações pela redondeza e o povo se admirava com aqueles meninos fazendo alegria em forma de música!
Assim viveu Francisco
tocando, cantando, plantando e é claro colhendo.
O negócio é que nessa região
também tinha muitas faltas o dinheiro não corria fácil não
Francisco deixou aquele povo todo,
saiu do interior e foi pra São Paulo construir metrô.
Lá na cidade grande, nas horas vagas era Francisco que fazia a alegria do povo
ele dava ritmo e esperança pra quele povo trabalhador
Mas era nos fins de semana e feriados
na Praça da República que Francisco
ganhou fama e admiração
o povo que por ali passava dizia:
Você toca parecido com o João do Pife*,
é mesmo você deveria se chamar Zé do Pife
e foi aí que o povo paulista rebatizou Francisco à Zé.
E no início dos anos 90
Zé veio pra Brasília
mudou-se com a família e tudo,
continuou aqui trabalhando na empresa Delta engenharia,
porém a idade veio chegando,
as empresas passando por crises
mandou muitos funcionários pra rua
então Zé nem se desesperou
sabia que tinha um ofício
e foi logo procurar
lugar pra colher bambu
e transformar em pife,
assim falaram-lhe da UNB e Escola de Música,
por esses cantos ele danou a andar e vender,
e ensinar para todos que vendia.
De um tempo pra cá Seu Zé
foi mestre griô da ação griô Nacional,
ganhou o prêmio de mestre do mundo,
foi convidado a dar aulas na UnB,
e foi lá que ele ganhou o seu maior presente,
pois aí formou-se a banda Zé do Pife e as Juvelinas,
banda essa que vem ganhando o Brasil,
tocando em festivais e festejos por aí a fora…
É esse Zé é mesmo um griô,
É o Zé brasileiro,
Zé que canta
Zé que toca
Zé que conta
Zé que fez da arte sua estrada que encanta
Zé que faz o povo rir e faz o povo chorar…
Zé que re-ensina a pureza de viver
À benção ao seu Zé do Pife…
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