Visitar Martinha do Coco foi um presente para nós da Caravana Griô. Ao lado dela conhecemos o universo feminino da maestria, que com leveza e suavidade consegue o vigor necessario para mobilizar uma comunidade, cuidar de casa, familia, filho, netos, amigos, cantar, tocar, dançar e claro contar suas histórias.

Fomos recebidos como sendo da família em sua casa, que era também a casa de sua mãe Dona Zefa, a grande companheira e mestra de Martinha, com quem ela aprendeu desde pequena a caminhar nas trilhas da cultura popular. Na sala toda pintada de azul com peixinhos decorando a parede, nos lembramos do mar, do litoral pernambucano, lugar onde Martinha nasceu e cresceu até os 15 anos de idade. Nos lembramos da grande mãe sereia, rainha das aguas, dos maracatus, cirandas e sambas de coco, que permearam a infancia de nossa amiga, como filhinhos no colo da mãe nos sentamos para ouvir a historia da chegada de Dona Zefa em Brasilia, e depois a vinda da propria Martinha, e a sofrida adaptação a essa terra que para ela era tão estranha.

Oh saudade! Saudade do mar, saudade de sua terra natal, saudade do arrepio ao ouvir o tambor tocar. Saudade essa que levou Martinha a procurar nas feiras e ruas de Brasília um lugar que a lembrasse do nordeste, e foi doendo de saudade que descobriu que ela até podia ter saído de Pernambuco, mas Pernambuco continuava dentro dela. O tempo passou e a menina Marta se tornou mulher, mãe, e foi enfrentar o batucada da vida, trabalhando de gari, limpando as ruas dessa cidade inventada. Estabeleceu moradia no Paranoá, na lutapor ocupação da terra e reivindicando o seu direito por ela, conheceu novos caminhos no trânsito dos onibus que iam e vinham, e foi cantando coco e fazendo festa dentro desses onibus, que Marta deixou sua profissão de gari e na reviravolta da vida, com a morte de sua primeira neta, decidiu ir fazer o que realmente alimentava o sentido de sua vida: cantar o coco pernambucano e estar junto de sua familia e amigos. Nascia aí a fama de Martinha do Coco e sua banda, que em parceria com grupos culturais da cidade, passou a se apresentar em festas, escolas, eventos e shows. E Martinha é mestra griô, porque segue aprendendo, ensinando e fazendo com amor sua música, acolhendo quem chega, cuidando de quem fica, e fazendo o melhor que pode onde estiver.

Realizamos a vivência na Escola Zilda Arns , onde o educador e artista Romulo nos recebeu. Chegamos cantando junto com Martinha pelos corredores a dentro… ” Bem vindo quem veio, bem vindo quem fica…” Abrimos a roda, e a vivencia ao lado dessa Mestra fluiu como se trabalhassemos juntas a anos, com histórias de como se dança coco e brincadeiras de afirmação de quem somos, juntos nos reconhecemos mais uma vez uma unidade, um só corpo pulsando o sonho de uma vida melhor.

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